Há muito tempo perdi toda a humanidade que me restava. Penso
em como seria se outro caminho tivesse me aprisionado em uma mascara de
ilusões, desconfiança e de mentiras. Penso em como seria uma vida imune a
tristeza, entregue aos afazeres de uma família feliz, cada qual se amando condicionalmente todos os dias. Penso em como seria uma vida dominada pelo medo
e manobras arquitetadas cuidadosamente por um governo insensível e a cada dia
mais satânico. Poderia eu amar tanto alguém ao ponto de transformar o mundo em
um palco, onde se passa uma romântica história de amor?
Dou-me conta de que
para algumas pessoas, uma escolha errada por não ter volta, e, o recomeço pode
se tornar um caminho inviável. Desprezo-me a cada iniciativa sem rumo que me
torna um eterno enigma.
Encontro-me em um quarto escuro, perdido em pensamentos
fúnebres, a procura de um sentindo solido para viver. Sinto o cheiro doce da
morte expandindo-se a procura de sua própria liberdade. Estou sentando em uma
cadeira de aço inox revestida com um belo couro vermelho. No chão, vários
cadáveres se estendem em cima de um grande tapete vermelho que divide espaço
com o resto da mobília.
Eu os matei? Sim! Acho que um pouco de amor me cairia
bem! Tento esquecer que essa era uma família feliz. Estaria eu a procura da
infelicidade? Às vezes sinto que sou o carrasco do diabo, indiferente por ter
enterrado as minhas emoções. Porque eu
teria medo de algo que se mantém tão constante em nossa vida? Há muito que eu
já não pertenço a esse mundo deprimente! O que as minhas vitimas vêem antes da
morte, é um corpo sem alma, um monstro consciente. Recordo-me de que nem todos
estão mortos. Sim! A vida ainda pulsa na alma daquela garota, cujos olhos
imploraram para preservá-la. O efeito do Dormonid está quase chegando ao seu
final. Em instantes ela estará tão lúcida quando eu. Que susto irá levar quando
acordar, e perceber que se encontra amarrada fortemente em uma cadeira em seu
próprio quarto. Seus olhos não me deixam matá-la. Seria amor? Não! É algo mais
perturbador! È como se uma doce amargura tivesse se apoderado de minha alma
e... Olha! Ela está acordando! Estou encoberto pela sombra da velha arvore que
se estende majestosamente por de traz desse palco de mistérios tão excitantes.
Ela só me verá quando eu sentir que as minhas petulantes emoções se
extinguiram. Vagarosamente ela abre aqueles malditos olhos. Divirto-me ao notar
o desespero nesses olhos tão humanos. Sim! Acho que é isso que tanto me
perturba! Toda essa bondade nesses olhos claros como um dia de verão. Perguntas
me rodeiam a cabeça: Como devo matá-la? Devo me entregar aos juízes sagrados
junto com ela?
Como ela é atraente. Seus lindos cabelos vermelhos caíram
tão bem em sua suave e macia pele branca. Seu belo corpo deixaria qualquer
homem excitado. Mais linda ainda ficou, com esse ar de desespero misturado aos
seus pensamentos de uma possível fuga. Há algum tempo, decidi que, ela não
poderia ter uma morte rápida. Ela terá que saborear o doce gosto da morte.
Com uma faca em punho me aproximo. Amordaçada ela tenta
falar algo. Talvez implorar por misericórdia. Não! Ela iria gritar! Gritar pela
sua vida. Mal sabe ela que, essa já não a pertence mais. Lentamente a faca
escorre da minha mão rumando ao assoalho. Pensamentos me veem a cabeça.
Finalmente um sorriso. Lentamente me dirijo à cozinha e volto com dois copos de
vinho. Arrasto uma cadeira para perto da moribunda. Espere! Algo está errado!
Tenho que despi La até ela ficar totalmente nua. Ela deve chegar ao outro mundo
do mesmo jeito que chegou a esse. Cada vez mais vejo o desespero em seus olhos. É como se os olhos suplicassem por misericórdia.
Tirei a mordaça e percebi seus lábios se moverem
freneticamente formando palavras às quais não pude responder. Ofereço a ela uma
taça de vinho. Em meios a lagrimas ela aceita. Em função das cordas que
amarravam as suas mãos, tenho que colocar a taça ao alcance de sua boca. Ela
bebe todo o conteúdo da taça. Outro sorriso.
Observo atentamente ela, enquanto me perco em pensamento.
Que corpo! Lindos seios naturais me chamam a atenção. Suas pernas sustentam as
suas partes intimas que se revelaram tão atraentes quanto intocáveis.
Acordo de
meus devaneios com alguns sussurros vindos da bela dama infortunada. Ela tenta
gritar, mais a sua voz falha. Teus olhos que tanto me perturbaram, agora dão
lugar a um clamor por piedade. Sua
respiração ficou ofegante e... O que é isso? Uma ereção? Como a luxuria de um
ser obstinado a filosofar os anseios da morte, pode ser tão surpreendente. Ela
para de se debater, sua respiração finalmente encontra um fim.
O que devo fazer? Morrer? Não posso! Tenho que vagar com os
mortos nessa terra tão enigmática. Não posso apagar a minha existência, antes
de amadurecer uma explicação satisfatória para a minha eterna indagação. Não posso! Ainda não
encontrei a razão para a minha morte.